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Olha a vida chamando: “Tá pronta, filha?”
Ai, mãe. Tô.
Unha pintada e cabelo arrumado no salão. Ela está pronta. Postou
uma foto no Insta do look da noite usando o novo par de sapatos e fazendo
biquinho.
Faculdade? Frequenta. Assiste algumas aulas, sempre de olho
no mural do Face e torce para ouvir a palavra “bar” o quanto antes.
“Você tem estudado o que?”
Aham...
Não dirige, usa motorista. Na lista de músicas do celular: David
Guetta, Nicki Minaj, Naldo e uns funks com refrão conhecido pra ficar por dentro e “causar na night”.
Usa vestidinho justo, salto alto e faz questão de estar com
o corpo zerado. Sempre.
“Você viu que tem gente passando fome? Gente que tá na fila de
espera do SUS? Sem condições básicas de moradia?”
Adora humor no face. Odiou o que o Instituto Royal fez com
os beagles.
É, tinham que testar em presidiários mesmo.
“R$ 50 mil?”
É o valor do seu vestido, justinho pra deixar as curvas à
mostra.
Se preocupa com os cliques, os flashes e odeia fofoca – com o
seu nome.
“O que você achou dos
corredores de ônibus?”
Você não tem carro?! Não é jogador de futebol?! Ela nunca
vai olhar pra você. Melhor, pelo menos, disfarçar com uma camisa pólo de marca,
um relógio gigante e umas correntes aí.
“Tá pronta, filha?”
Ela é bonita, chama a atenção, tem um sorriso perfeito. É
magra, peitão siliconado e uma rede de amigos de dar inveja. Esbanja dinheiro
com as melhores roupas, joias, o celular de ponta. Partidão. Que cara não ia
querer?
Eu a vejo todos os dias. Em todo lugar. Já faz parte do
cenário que ninguém nota?
Me impressiona precisar um vídeo de três minutos cair
em uma revista duvidosa pra você se indignar.
“E as cotas? A educação? A desigualdade? A política? Sua
família? Sua moral? Sua consciência? Seu legado? Seu exemplo?”
Pera aí, que a novela vai começar...
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Muito bom Ale, seguindo o blog :)
ResponderExcluirBrigada :D
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